sábado, 9 de abril de 2011

O Embarque.



Acontecem coisas muitos estranhas com o tempo nas estações de trem, pelo menos comigo. Todos os dias eu planejo sair de casa num determinado horário para chegar em tempo de pegar o trem para a faculdade com o Gustavo (@guzsilva no twitter) às 7:00 e chegarmos lá antes das 8:00. Nunca dá certo.
Quando saímos às 7:00, chegamos lá às 8:10, se saímos 7:20 acabamos chegando às 7:50 ¬¬ . O tempo nas estações de trem durante a manhã é realmente bizarro.
Nessa última segunda-feira, abri a porta da sala de casa e dei de cara com uma parede bem densa de neblina, dei tchau pra mamãe e segui meu caminho até a estação. Me posicionei no mesmo lugar de sempre na plataforma e... esperei.
Olhei para a direção de onde vem o trem e ... nada. Depois de alguns minutos, minha agonia foi aumentando e minhas olhadas começaram a se voltar para a tal direção com muita freqüência, mas a única coisa que eu conseguia enxergar era parte dos trilhos e a parede de neblina. Nem sinal dos faróis... nem sinal de nada, só mesmo da minha agonia.
Então parei de pensar no trem e no horário, comecei a reparar em mim mesma, e nas outras pessoas que também esperavam na plataforma... me senti uma completa boçal. Não conseguia achar um motivo bom o bastante que explicasse o porquê de eu ficar olhando insistentemente para a direção de onde vem o trem, sendo que na hora que o ele chegasse pararia e abriria uma das portas bem na minha frente, como acontece todos os outros dias. 
Por que mesmo sabendo disso eu continuava ansiosa? Parecia mais forte do que eu, e quem me conhece sabe que eu não gosto muito de perder o controle das situações, principalmente quando perco o controle para mim mesma. Era como se só quando eu visse a luz dos faróis se aproximando de mim poderia ter a certeza de que ele realmente viria.
Descobri, então, que isso não acontece só na plataforma de uma estação de trem... acontece também em muitos outros âmbitos da vida. Temos certeza de determinadas coisas, sabemos que na hora certa (que pode não ser na hora que consideramos ser a certa) elas vão acontecer, mas ainda assim nos desesperamos.
Habacuque foi um homem (Bíblia) que não entendia o porquê da  destruição, injustiça, violência e vantagem das pessoas más sobre as boas... por isso perguntou a Deus porque Ele não fazia nada a respeito disso. Deus não ficou bravo por causa das perguntas de Habacuque, em vez disso, Ele explicou o que faria a respeito.
Deus responde pela segunda vez a Habacuque dessa forma:
“Escreva em tábuas a visão que você vai ter, escreva com clareza o que eu vou lhe mostrar, para que possa ser lido com facilidade.
Ainda não chegou o tempo certo para que a visão se cumpra; porém ela se cumprirá sem falta. O tempo certo vai chegar logo; portanto, espere, ainda que pareça demorar, pois a visão virá no momento exato.
A mensagem é esta:
Os maus não terão segurança, mas as pessoas corretas viverão por serem fieis a Deus.”
O cuidado de Deus é certo em todas as áreas da nossa vida. Temos sim que fazer a nossa parte, chegar no horário certo na estação e descer até a plataforma que nos leva ao destino correto, mas quem controla a hora do trem chegar é Ele
Olhar ansiosamente esperando ver os sinais do farol em meio a neblina não fará o trem chegar mais rápido. O máximo que pode acontecer é o seu nível de nervosismo aumentar consideravelmente.

Bom é descansar e esperar pacientemente para embarcar.

Nota: Fiz a experiência de me segurar e não olhar insistentemente para a direção de onde vem o trem, além dele chegar mais rápido do que eu imaginava,  me causou uma sensação de surpresa agradabilíssima.

sábado, 2 de abril de 2011

Se tu vens ás quatro, desde às três eu começarei a ser feliz.

     Quando eu era criança costumava mexer no armário da sala da casa da vó Hilda. Gostava de bisbilhotar os livros velhos da minha tia e sempre tentava começar a ler o tal do "O Pequeno Príncipe". Não conseguia entender muito bem nem os desenhos, quanto mais as palavras.
     Quando cresci e finalmente resolvi lê-lo, me encantei.


     Mas a raposa retomou o seu raciocínio.


      - Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E isso me incomoda um pouco. Mas, se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fossem música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo (...)

      - Que é preciso fazer? -- perguntou o pequeno príncipe.
     - É preciso ser paciente -- respondeu a raposa. - Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim , na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...

      No dia seguinte o principezinho voltou.
      - Teria sido melhor se voltasse à mesma hora - disse a raposa - Se tu vens, por exemplo, às quatro, desde às três eu começarei a ser feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!
      Mas, se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração (...)

Antoine De Saint-Exupéry