Quando eu era criança costumava mexer no armário da sala da casa da vó Hilda. Gostava de bisbilhotar os livros velhos da minha tia e sempre tentava começar a ler o tal do "O Pequeno Príncipe". Não conseguia entender muito bem nem os desenhos, quanto mais as palavras.
Quando cresci e finalmente resolvi lê-lo, me encantei.
Mas a raposa retomou o seu raciocínio.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E isso me incomoda um pouco. Mas, se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fossem música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo (...)
- Que é preciso fazer? -- perguntou o pequeno príncipe.
- É preciso ser paciente -- respondeu a raposa. - Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim , na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor se voltasse à mesma hora - disse a raposa - Se tu vens, por exemplo, às quatro, desde às três eu começarei a ser feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!
Mas, se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração (...)
Antoine De Saint-Exupéry
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